O vento e o sol discutiam sobre quem era mais forte. Olhando para a terra, viram um homem caminhando, vestindo seu casaco. O vento desafiou: - Quem de nós o fizer retirar o casaco é o mais forte. Concordando, o sol pediu que o vento agisse primeiro. E ele fez o que sabia fazer: soprar. Soprou forte. O homem, sentindo frio, abotoou o casaco. Ele soprou mais forte ainda, com violência, e o homem, fechando ainda mais a vestimenta, encolheu-se todo. Constatando que, quanto mais violento, menos chances de fazê-lo despir-se, parou de soprar. Foi, então, a vez do sol. A princípio, o sol brilhou fracamente. O homem endireitou o corpo. Em seguida, brilhou mais forte. O homem desabotoou o casaco. Por fim, brilhou com grande intensidade. O caminhante, encalorado, retirou o casaco completamente. - Você é o mais forte – admitiu o vento. - Não – respondeu o sol – sou apenas o mais persistente. A humanidade está diante de uma encruzilhada civilizatória. Nosso modelo de civilização parece ter esgotado as chances de manter o planeta ambientalmente equilibrado. O progresso que a maior parte do mundo persegue é o bem-sucedido padrão norte-americano de consumo. O mesmo que faz seus 350 milhões de habitantes consumirem 25% da energia e matérias-primas produzidas na Terra. É fácil entender que, se todas as pessoas tivessem este padrão, o planeta suportaria só 1,4 bilhões delas. Entretanto, já somos mais de 6,5 bilhões! Mesmo assim, as pessoas perseguem este padrão. Ele não é matematicamente possível, mas é o padrão desejado. Além de não ser aritmeticamente viável, este modelo é competitivo, é excludente, é gerador de misérias e mazelas sociais; é intrinsecamente pernicioso porque descarta os que não se enquadram; intrinsecamente mau porque alija os que não o reproduzem; é predador dos recursos naturais, é produtor de passivos ambientais, é uma ameaça à integridade física e biológica do planeta. Mesmo assim, é desejado com um fervor religioso. O modelo de civilização buscado pela maioria não garante a permanência da maioria no planeta. Por isso, estamos diante de uma crise civilizatória. Diante de crise de tamanhas proporções, é preciso insistir em um outro padrão de comportamento. Um padrão que, em vez de competitivo, seja solidário. Em vez de excluir, inclua. Em vez de gerar misérias e mazelas sociais, promova o desenvolvimento individual e coletivo. Em vez de descartar quem não se enquadra, garanta chances desiguais aos desiguais. Em vez de alijar os que não o reproduzem, valorize aqueles que apontam caminhos diferentes. Em vez de predar, poupe os recursos naturais. Em vez de produzir passivos ambientais, produza alternativas naturais. Em vez de ameaçar o planeta, coloque-se ao lado dele. E não adianta, como o vento, usar a violência para que tais padrões estabeleçam-se. Como o sol, é preciso persistência. Ser persistente na defesa da solidariedade. Persistente na busca da inclusão. Persistente na construção do desenvolvimento individual e coletivo. Persistente na tolerância para com os desiguais. Persistente na valorização dos que pensam diferente. Persistente, enfim, na busca de um novo modelo civilizatório que, sem perder o dom de produzir cultura, nos faça voltar a conviver com o mundo natural. Em verdade, a crise civilizatória é uma crise de valores morais. A natureza venceu. É preciso admitir. É hora de substituir a velha moral humana por princípios naturais. Mesmo que não o façamos pelo mundo natural; que o façamos apenas por nós. Por nossa exclusiva sobrevivência. A natureza já teve paciência demais. Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos |
sábado, 30 de abril de 2011
A VIOLÊNCIA E A PERSISTÊNCIA
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